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Idealização e Desvalorização no Transtorno de Personalidade Borderline: Quando a Admiração se Transforma em Rejeição


A experiência de oscilações emocionais intensas nos relacionamentos interpessoais pode ser devastadora tanto para quem vive quanto para quem convive com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Um dos padrões mais marcantes nesse transtorno é o ciclo de idealização e desvalorização um fenômeno psicológico que reflete dificuldades profundas na integração de aspectos positivos e negativos das pessoas e de si mesmo.


Esse mecanismo, também chamado de cisão, é um processo de defesa inconsciente que, embora presente em outros quadros psiquiátricos, é característico do TPB (American Psychiatric Association [APA], 2022). Nele, o indivíduo tende a enxergar os outros como completamente bons ou totalmente maus, sem conseguir manter uma visão complexa e integrada de suas qualidades e limitações. Uma pessoa pode ser colocada em um pedestal e, diante de uma decepção ou frustração, ser abruptamente desvalorizada e rejeitada.


Neurobiologia da Cisão


Do ponto de vista neurocientífico, pesquisas sugerem que essas oscilações estão relacionadas a alterações funcionais na amígdala e no córtex pré-frontal ventromedial regiões cerebrais envolvidas na regulação emocional e no processamento de estímulos sociais ambíguos (Herpertz et al., 2001; Krause-Utz et al., 2014). Em indivíduos com TPB, essas áreas apresentam hiperreatividade ao estresse interpessoal, dificultando a manutenção de vínculos seguros e estáveis.


Como Funciona a Idealização


A idealização é um processo pelo qual o outro é percebido de maneira exageradamente positiva, como se não houvesse falhas ou ambivalências. Trata-se de uma tentativa inconsciente de evitar o sofrimento gerado por incertezas emocionais, projetando uma imagem perfeita sobre a qual o indivíduo borderline se apoia para se sentir seguro (Gunderson, 2011).


No entanto, essa idealização é frágil e altamente instável. Pequenos episódios de frustração, críticas ou sensação de rejeição podem ser suficientes para quebrar essa imagem idealizada.


Quando Surge a Desvalorização


Em resposta ao colapso da idealização, a desvalorização aparece como mecanismo de proteção contra a dor do desapontamento. Nesse processo, a pessoa que antes era admirada passa a ser percebida como inteiramente negativa, perigosa ou traiçoeira. Essa mudança brusca de percepção é angustiante para quem sofre com TPB e desconcertante para aqueles que convivem com ele (Paris, 2015).


O Impacto nos Relacionamentos


Essa alternância entre extremos afeta profundamente os vínculos interpessoais, gerando ciclos de aproximação intensa seguidos de rupturas abruptas. A pessoa com TPB frequentemente sente culpa ou vergonha após episódios de desvalorização, o que perpetua um ciclo de instabilidade emocional e relacional (Zanarini & Frankenburg, 2007).


A boa notícia é que o Transtorno de Personalidade Borderline tem tratamento. A Terapia Comportamental Dialética (Dialectical Behavior Therapy – DBT), desenvolvida por Marsha Linehan, é reconhecida mundialmente como o tratamento mais eficaz para o TPB, sendo sustentada por décadas de pesquisa científica (Linehan et al., 2006; Stoffers et al., 2012).


A DBT ajuda a pessoa com TPB a desenvolver habilidades para regular emoções, tolerar o mal-estar, melhorar a comunicação interpessoal e construir uma vida com mais equilíbrio e sentido. No contexto da idealização e desvalorização, a DBT ensina estratégias para reconhecer pensamentos extremos e substituir reações impulsivas por respostas mais adaptativas (Neacsiu et al., 2010).


A DBT Paraná é referência nacional no tratamento especializado do Transtorno de Personalidade Borderline. Seu trabalho é guiado pelo modelo de DBT original, validado por evidências científicas internacionais, e conduzido por uma equipe multidisciplinar altamente qualificada.

Além do atendimento clínico individual e em grupo, a DBT Paraná oferece um programa de psicoeducação e habilidades voltado exclusivamente para familiares de pessoas com TPB. Esse suporte é essencial, pois o ambiente familiar pode influenciar significativamente no curso do tratamento e no bem-estar emocional do paciente (Fruzzetti & Hoffman, 2004).


Na DBT Paraná, acreditamos que o sofrimento de quem sente demais pode ser transformado. Nossa missão é oferecer um espaço de acolhimento, ciência e esperança onde pacientes, familiares e profissionais caminham juntos rumo à estabilidade emocional e à construção de vínculos mais seguros.


Referências


American Psychiatric Association. (2022). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.; DSM-5-TR). American Psychiatric Publishing.

Fruzzetti, A. E., & Hoffman, P. D. (2004). Family members of individuals with borderline personality disorder: Burden and interventions. Harvard Review of Psychiatry, 12(2), 94–101. https://doi.org/10.1080/10673220490447236

Gunderson, J. G. (2011). Borderline personality disorder: A clinical guide (2nd ed.). American Psychiatric Publishing.

Herpertz, S. C., Dietrich, T. M., Wenning, B., et al. (2001). Evidence of abnormal amygdala functioning in borderline personality disorder: A functional MRI study. Biological Psychiatry, 50(4), 292–298. https://doi.org/10.1016/S0006-3223(01)01075-7

Krause-Utz, A., Winter, D., Niedtfeld, I., & Schmahl, C. (2014). The latest neuroimaging findings in borderline personality disorder. Current Psychiatry Reports, 16(3), 438. https://doi.org/10.1007/s11920-014-0438-z

Linehan, M. M., Comtois, K. A., Murray, A. M., et al. (2006). Two-year randomized controlled trial and follow-up of dialectical behavior therapy vs. therapy by experts for suicidal behaviors and borderline personality disorder. Archives of General Psychiatry, 63(7), 757–766. https://doi.org/10.1001/archpsyc.63.7.757

Neacsiu, A. D., Rizvi, S. L., & Linehan, M. M. (2010). Dialectical behavior therapy skills use as a mediator and outcome of treatment for borderline personality disorder. Behaviour Research and Therapy, 48(9), 832–839. https://doi.org/10.1016/j.brat.2010.05.003

Paris, J. (2015). Stepped care for borderline personality disorder: Making treatment brief, effective, and accessible. Academic Press.

Stoffers, J. M., Völlm, B. A., Rücker, G., et al. (2012). Psychological therapies for people with borderline personality disorder. Cochrane Database of Systematic Reviews, 8, CD005652. https://doi.org/10.1002/14651858.CD005652.pub2

Zanarini, M. C., & Frankenburg, F. R. (2007). The essential nature of borderline psychopathology. Journal of Personality Disorders, 21(5), 518–535. https://doi.org/10.1521/pedi.2007.21.5.518

 
 
 

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